O VAGAR
Estanque espaço vazio um momento;
Em seguida, palatam o chão os pés mosaicais e transgênicos,
Por meio do bivagar das pessoas:
Estas, caminhantes sempre á demanda
De coisas sublimes, etéreas, convencionais, insólitas, múltiplas:
Conhecimento, estrada longa, via curta;
Alguma coisa, coisa alguma, o nada;
Alguma coisa que a pena se valha;
Alguma coisa por que não se valha a pena travar a luta da Navalha.
Os olhos perscrutam tal miríade de movimentos
E vêem atentamente os cálamos:
Os cálamos que por ali perpassam, vagueiam:
Que por ali gravitam diariamente;
Que orbitam na quase concomitante alternância de dias e Semanas.
Sim, com efeito, há ainda aqueles que preferem ou só podem
Dispor do esparso perpasso de meses, anos, milênios, supernovas!
Ah, passeiam por ali estilos vários:
Ortodoxo, circunspecto, heterodoxo, tímido;
Profético, compassivo, filosofal, social, neoliberal, político;
Poético, mobral, humilde, narciso, pedante, radical, sombrio;
Tristonho, alegre, participativo, impaciente, lascivo, indiferente,
Afirmo.
Enfim, alienado. Finalmente, perdido no labirinto do
Esquecimento do mundo e de si mesmo. Afinal, em si próprio
Lacrado. Lacrado a sete chaves, a sete portas, a sete palmos
Do firmamento em que reluz a mais sábia das auroras
Que se haja, até hoje, encontrado!
Oh, mas muito mais além vêem os olhos:
Porque os olhos vêem a amplidão dolosamente infinita
Do intangível e do inefável:
Sim, pois, até ali mesmo, passos ignotos e não-sonoros
São notados, percebidos, prospectados!
Ah, os olhos contemplativos se enlevam
Com o mar de sortilégios que emanam do espaço:
Sim, em si, plural, soturno, álacre, inane, universal, caudal,
Unitário!
Seja como e qual for,
Ele entontece, entorpece, paralisa!
Ah, que bom é ter a exata dimensão da pequenez
Do vagar de nós próprios e da augusta grandeza do espaço
Em perspectiva.
Jessé Barbosa de Oliveira