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O VAGAR

 
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O VAGAR




Estanque espaço vazio um momento;
Em seguida, palatam o chão os pés mosaicais e transgênicos,
Por meio do bivagar das pessoas:
Estas, caminhantes sempre á demanda
De coisas sublimes, etéreas, convencionais, insólitas, múltiplas:
Conhecimento, estrada longa, via curta;
Alguma coisa, coisa alguma, o nada;
Alguma coisa que a pena se valha;
Alguma coisa por que não se valha a pena travar a luta da Navalha.



Os olhos perscrutam tal miríade de movimentos
E vêem atentamente os cálamos:
Os cálamos que por ali perpassam, vagueiam:
Que por ali gravitam diariamente;
Que orbitam na quase concomitante alternância de dias e Semanas.
Sim, com efeito, há ainda aqueles que preferem ou só podem
Dispor do esparso perpasso de meses, anos, milênios, supernovas!
Ah, passeiam por ali estilos vários:
Ortodoxo, circunspecto, heterodoxo, tímido;
Profético, compassivo, filosofal, social, neoliberal, político;
Poético, mobral, humilde, narciso, pedante, radical, sombrio;
Tristonho, alegre, participativo, impaciente, lascivo, indiferente,
Afirmo.
Enfim, alienado. Finalmente, perdido no labirinto do
Esquecimento do mundo e de si mesmo. Afinal, em si próprio
Lacrado. Lacrado a sete chaves, a sete portas, a sete palmos
Do firmamento em que reluz a mais sábia das auroras
Que se haja, até hoje, encontrado!




Oh, mas muito mais além vêem os olhos:
Porque os olhos vêem a amplidão dolosamente infinita
Do intangível e do inefável:
Sim, pois, até ali mesmo, passos ignotos e não-sonoros
São notados, percebidos, prospectados!


Ah, os olhos contemplativos se enlevam
Com o mar de sortilégios que emanam do espaço:
Sim, em si, plural, soturno, álacre, inane, universal, caudal,
Unitário!
Seja como e qual for,
Ele entontece, entorpece, paralisa!
Ah, que bom é ter a exata dimensão da pequenez
Do vagar de nós próprios e da augusta grandeza do espaço
Em perspectiva.

Jessé Barbosa de Oliveira

 
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jessé barbosa de oli
 
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Enviado por Tópico
Julio Saraiva
Publicado: 25/05/2008 14:31  Atualizado: 25/05/2008 14:31
Colaborador
Usuário desde: 13/10/2007
Localidade: São Paulo- Brasil
Mensagens: 4206
 Re: O VAGAR p/Jessé
Mais um poema de peso. Escrito para despertar os humildes e assustar os poderosos. Você às vezes me parece saído da escola de Ferreira Gullar: "Ah que bom é ter a exata dimensão da pequenez" Acho este seu verso muito forte.

Abraço,

Júlio

Enviado por Tópico
visitante
Publicado: 25/05/2008 15:42  Atualizado: 25/05/2008 15:42
 Re: O VAGAR
Amigo poeta,
Os seus poemas são trabalhados à exatidão do ourives e sua pepita de ouro. Poema à peso de ouro!
Beijo.