bateu à porta, gélida a mão que se estende, toc-toc, levanto-me para abrir e juro a pés juntos que será a última vez que deixo o calor dos cobertores, caminho com o passo descompassado que adivinha o desamor que ocupa o espaço, tu repousas ainda agarrado ao tanto que somos como se fosse possível repousar sossegado com este frio que se sente. dói qualquer coisa que nunca entendi o que é, dói e arrefece tudo o que nos vai dentro, de tal forma que nos congela o coração, glaciar. abro e caio, bato com as costas no chão de madeira, a cabeça parte o vaso de rosas que me ofereceras à dois dias, desconheço-me e tudo em mim estala.
acordo, a face vermelha de sangue já seco, levanto-me ainda meio tresloucada e vou até ti, não me ouviste chamar? tu não respondes e um arrepio inunda o meu corpo, caminho tonta até à casa-de-banho, lavo a cara, olho o espelho, limpo a cara e vou até ti, quero estar certa de que dormes sossegado, desligo o televisor, não me sabe bem o silêncio que se sente no ar, não te sinto. deito-me ao teu lado, estás gelado, grito o teu nome na solidez da quietude, não respondes e eu caio sobre o teu corpo como uma viúva certa, congelam-se lágrimas na minha face e os lábios trémulos sentem o beijo da morte.
falar da tua morte não me assusta:
bateu à porta, entrou, levou-te e eu nada pude fazer.
digo-te que dói como doem todas as coisas que nos deixam tristes,
digo-te que a nossa história sempre terá um final feliz.
. façam de conta que eu não estive cá .