Decerto na fantasia lunar do meu sonho, um lado da minha consciência permanecia em sombra, de que me valiam estes restos de realidade, se tinha novamente diante de mim, palpitante e submisso, aquele corpo que eu tanto desejava. Dobra-se para traz....deito-me sobre seu colo... rolamos pelo velho sofá ...por mais que a consciência queira roubar-me o sonho, como esquecer, como não sonhar na sensação transmitida pela forma dos seus seios em minhas mãos, da garganta macia onde meus lábios passeavam, do seu perfume quente e adocicado. Docemente escorrego a mão ao longo do seu tronco, sinto encrespar-se a maciez de sua pele....como um caminho muitas vezes percorrido, sabia que ali desaguavam unidas as dissonâncias do mundo...coloco a mão sobre seu sexo, que palpita ao meu contato como uma ventosa de lã. Estremece seu corpo, ondula-se com a chegada de um espasmo...sob meus dedos que fazem mais duros, mais precisos no afago, sinto-a abrir sua flor oculta, desnuda-se o mistério de sua natureza, uma boca murmurando um convite. Como um grito, rompeu-se o encanto, entreabriu a fenda escura e vermelha do seu corpo, num riso moço, vibrátil unindo e ressoando toda a musica existente.
Dizer que amei será dizer pouco, que a amo, muito, deixei-me absorver, tentei absorvê-la e dessa fusão retirei minha primeira noção do amor, do seu abismo doce, úmido e profundo. Sobrevém o cansaço, suado, satisfeito em gozo abato-me ao seu lado, indefeso no sonho, cuja cortina se abre.
Acordo, respiração entrecortada e feliz, como poderia sonhar, delirar, tão deliciosamente sem tê-la conhecido? A manhã me espreita através das frestas da veneziana, abro as janelas de par em par, o dia invade meu quarto glorioso em sua luz, como uma jóia rara que abandona o estojo. Desenhando na face do tempo um sorriso...
Bom dia ... dia
Carlos Said