Homem, um cerco de silêncio
se empenha em deter teus passos.
És estrela errante
Desorbitada em grizes ocasos impossíveis.
Entre um inevitável labirinto de horas,
Que chegam e se vão sem saber para aonde.
Umas leis mesquinhas, que inventaram temores,
Querem cortar-te o passo,
Pintando em tuas retinas
Visões de naufrágio.
E dando albardanaços na angústia,
A música acendida em teu ser,
Esperando está sempre,
Que uma mão humana abra-lhe a porta,
Atrás da qual incendiando suas paixões,
Desperta um novo mundo.
Os gritos de justiça de tua rebelião
Não sobem ao castelo inacessível,
Aonde triunfam os donos desta terra,
Que um dia receosos puseram em teus ideais
Uma cruz de impossíveis,
Para que não chegues até aonde
A terra cresce com a nova aurora.
Tens vivido até hoje inutilmente,
Buscando quem desate tuas cadeias,
Quem ilumine tuas pupilas cegas,
Aonde sonham inquietas as estrelas
Buscando um novo horizonte.
Homem sacrificado.
Um dia, com o escudo da honestidade
Que emana as luzes da verdade,
Que oprime os fortes.
Empreenderás novos caminhos
Decifrando a vida.
Céu e Terra travarão suas espadas
Te mostrando a rota
Onde em cruzes de espera
Choram crucificados teus ideais.
Então serás forte
Lançando em fim por caminhos novos,
Tua palavra que crescerá ao vento;
E em sulco cortado por tuas mãos
Semearás a semente vermelha e reluzente
Que nunca será medrosa.
E teu empenho como uma clara torrente
Fará crescer fecunda a semente
Na terra desnuda, à tua sombra.
Rui Garcia