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Na mesa de um café

 
Nota prévia: hoje apeteceu-me partilhar um outro registo, prosa. Perdoem-me os verdadeiros prosadores deste espaço

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Depois de almoço decidi ir arejar as ideias e tomar um café, vesti o casaco, peguei na carteira, no meu inseparavel caderninho e numa caneta e lá fui.
Fui ao café de sempre, sentei-me na mesa de sempre e pedi o mesmo de sempre: um café e uma àgua com gás.
Lá ao fundo ocorre uma acessa discussão sobre futebol, nem sequer tinha a ver com a final da Taça mas sim com a convocatória para o europeu... abri o caderno e comecei a escrever...pensamentos e pouco mais.
Heis que chegam quatro jovens, não terão mais de 19 anos, um dos casais entra abraçado, o braço dele rodeia-lhe a cintura e a mão dela repousa no bolso de trás das calças dele... sentam-se na mesa ao lado da minha e não resisto a observá-los. Um dos casais troca sem qualquer espécie de embaraço carinhos e beijos repenicados...ela provoca-o com o olhar e a perna dele agita-se nervosamente por baixo da mesa. Diria que está nervoso, não sei se porque se sente embaraçado ou porque está a ter dificuldade em esconder o desejo que os olhar lânguido dela lhe provoca. Beija-a... de olhos fechados (o que só por si revela muita coisa).
Ele faz-lhe festas subtis na mão e olha-a com um olhar intenso e penetrante, sente-se a respiração dela mais intensa... e talvez por isso retira a mão e esconde-a no bolso do casaco.
Os rostos tocam-se, os olhares cruzam-se, os olhos cerram-se, as bocas aproximam-se e num ápice fundem-se num beijo intenso, molhado e surpreendentemente rápido... por baixo da mesa as mãos entrelaçam-se e repousam nas pernas dele que deixaram de se agitar frenéticamente.
Heis que na mesa ao lado se sentam quatro senhoras de idade, conversam alto e alegremente... falam de Nossa Senhora. O romance dos jovens, com um toque de erotismo mistura-se com a conversa das senhoras sobre santos...é quase uma mistrura de sagrado e profano. Repetem-se os beijos, desta vez mais intensos, mais gulosos, mais quentes... as mãos dele escondem-se discretamente debaixo do casaco dela...
Por um breve instante penso que sou apenas uma mera observadora sentada numa mesa no meio do que um dia já fui, jovem e apaixonada, e do espero um dia vir a ser, uma senhora idosa mas alegre e bem disposta.
Levanto-me, fecho o meu caderno, deito um último olhar ao casal que continua a trocar beijos e carinhos e saio do café a pensar que afinal em qualquer lado podemos dar de caras com o passado e ter relances do que pode ser o futuro.

HP/

 
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Hisalena
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Enviado por Tópico
ângelaLugo
Publicado: 19/05/2008 00:30  Atualizado: 19/05/2008 00:30
Colaborador
Usuário desde: 04/09/2006
Localidade: São Paulo - Brasil
Mensagens: 14852
 Re: Na mesa de um café p/ Hisalena
Querida poetisa

Adorei seu texto...
O profano o sagrado sempre
se deram as mãos hoje e no
passado...Muito bem! Parabéns

Beijinhos no coração

Enviado por Tópico
Rogério Beça
Publicado: 19/05/2008 14:25  Atualizado: 19/05/2008 14:25
Usuário desde: 06/11/2007
Localidade:
Mensagens: 2123
 Re: Na mesa de um café
Estou certo que os "verdadeiros " prosadores nada terão a dizer...

Falta saber se a moça ia ou não de saia...

Beijo

RB

Enviado por Tópico
visitante
Publicado: 04/06/2008 18:06  Atualizado: 04/06/2008 18:06
 Re: Na mesa de um café
Que belo olhar ao tempo, gostei da delicada nostalgia de tua poética prosa...

Enviado por Tópico
Marlene
Publicado: 05/06/2008 16:13  Atualizado: 05/06/2008 16:13
Da casa!
Usuário desde: 08/05/2008
Localidade: Lisboa
Mensagens: 260
 Re: Na mesa de um café
Olá.
Gostei muito de ler o seu texto.
Pois se olharmos com os olhos abertos em nosso redor, podemos tirar muitas conclusões.
Até numa ida ao café.
Tem que haver o equilibrio entre o sagrado e o profano.
Obrigada pelo comentário do outro dia. Abraços

Enviado por Tópico
Norberto Lopes
Publicado: 26/07/2008 16:57  Atualizado: 26/07/2008 16:57
Membro de honra
Usuário desde: 15/03/2008
Localidade: Lisboa
Mensagens: 896
 Re: Na mesa de um café
Só um reparo (pergunta) à nota prévia:
Porquê? Há quem escreva melhor?

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