o que surpreende são as árvores
a vida tensa nelas
a beleza
delas
as bifurcações, os labirintos
as sombras, os cantinhos,
cada bocadinho uma casa pequenina e feliz
um doce
um livro
uma manhã de domingo
o armário das coisas da barba
música na rádio
o vento agitando as folhas e as flores
embalando os ramos como num poema
e, obviamente,
um passarinho
do qual não vislumbrei ninho
(num cantinho, no interior da árvore, no coração da árvore)
que boa a mediocridade burguesa
sem grandeza
que felicidade!
surpreende esta árvore em particular,
sujeita aos olhitos míopes de um devassador
resistindo,
forte imperial soberba
resistindo à manhã de domingo
parece cantar,
só lhe faltam as asas de modo a desaparecer, momentaneamente,
e regressar ao entardecer
próximo da hora de recolher
quando for já longe a manhã de domingo
e aparecer na obscuridade da noite
como a lua