Nascemos com os dedos prontos pro toque,
Mas esquecemos onde repousa o coração.
Vivemos clicando promessas que não chegam,
E desejamos paz com a tela ainda acesa.
Dormimos com a mente em grito,
Sonhamos com um descanso que nunca vem.
Cada suspiro é cálculo,
Cada passo, performance.
Ser virou tarefa.
Sentir, um erro de sistema.
Queremos tudo, agora.
Mas o agora sempre foge.
Corremos atrás de um tempo que já passou,
E o futuro nos olha com olhos de dívida.
Somos filhos do excesso,
Órfãos do presente.
Carregamos o mundo no bolso
Mas esquecemos o próprio nome.
Na fila do café,
No scroll infinito,
Na espera do que não sabemos
Ali moramos.
Ali nos perdemos.
Poema: Odair José, Poeta Cacerense