O norte eleva-se na multidão, um rumor de nostalgia
Não é sobre a flor aberta, mas a lembrança sepultada
O embrião de uma ideia, a tristeza vinda sem porque
Esse suceder de estações, antigos passos pela escada
Debaixo da lua de um abril onde floresçam os trigais
O sul repousa ao pé dos montes das grandes árvores
A noite vem avara de vozes, a quem cabe esta ruína
Sem o pó que o vento alçaria se, distraído, soprasse
Esse sangue poético justamente anônimo e profético
Derramado na calçada ao pé dos sonhos irrealizados
Ao leste a sua eterna galhardia de ver o nascer o sol
A rua brilha na chuva debaixo de luminárias amarelas
Cavalgo a palidez da palavra amanhecida à beira mar
Retrato num epitalâmio, o amor entre ondas e areias
Na boca da noite, cintila a celebração dos contrários
Ao oeste o sorriso franco vem tingir o céu em noite
Permita que te cante versos de palavras esquecidas
E que procelas em sílabas azuis, entoem o flamenco
Lavrando essências de esperança, liberdade e olvido
Ah, essa minha mania de amar-te viva, porém és lenda
Mas tu, rosa dos ventos, traze-me teus rios celestes
Para eu poder amar-te líquida, fluindo-me pelas veias
Contrariando as voltas do sisudo carrilhão da matriz
Para amar-te loura criança pela mirada do horizonte
Eternamente amar-te em silêncio qual se fosse Deus