Há dias em que o sol nasce só para me lembrar
que a luz não me pertence mais.
Levanto os olhos, mas tudo é cinza.
E mesmo o céu... parece me ignorar.
Não há barulho. Nem silêncio.
Só um zumbido constante — o eco do vazio.
Minha cama virou trincheira.
Meu corpo, um peso que implora pra não existir.
Estou me afundando em mim mesmo,
sem cordas, sem mãos,
sem um grito sequer que quebre essa bolha densa
de dor surda e solidão ruidosa.
Me disseram que a vida era bela.
Mas esqueceram de avisar que ela morde,
arranca pedaços devagar,
até você não saber mais o que sente,
ou se sente.
Sorrir se tornou um espasmo.
Respirar, uma obrigação.
Olhar para alguém...
é como encarar um mundo onde não pertenço.
As pessoas notam — sim, notam.
Mas desviam o olhar como se eu fosse peste,
um espelho do que todos têm medo de ser:
um humano quebrado demais para consertar.
Me disseram: “Escreve, alivia.”
Mas até a escrita sangra agora.
As palavras escorrem com gosto de ferro,
e os versos tremem como mãos frias em despedida.
Não quero conselhos.
Não quero flores.
Não quero frases feitas em fonte cursiva.
Quero que alguém olhe nos meus olhos
e entenda que o que habita em mim...
é um inverno sem fim.
Sinto falta de mim.
Do riso bobo, das noites sem peso,
dos dias em que minha existência
não era um fardo para ninguém.
Mas tudo se foi.
Como amigos.
Como a dignidade que um dia me vestiu.
Hoje sou só carne envolta em tristeza,
uma alma encalacrada em um corpo
que mal consegue se levantar.
O espelho me encara e pergunta:
“Até quando?”
Mas eu não tenho resposta.
Só cansaço.
Um cansaço que pulsa nas veias,
lateja na nuca,
arde nos olhos secos.
E o pior?
Ninguém vê.
Porque dor que não sangra,
não comove.
Sim, o fundo do poço tem meu nome.
E a única certeza que tenho...
é que ecoar meu silêncio
doa menos do que tentar gritar
em um mundo que não escuta.