Naquilo que os outros não tocam,
há um sentimento que talvez nem saiba existir,
mas que fala às entranhas,
tece minha alma, cria asas e voa,
num rito tão íntimo, entre o sussurro e o grito.
No deus selvagem que habita meu sangue,
como um lamento vindo do fundo do mar,
que fere e cura, que rasga e costura,
e queima, mesmo depois da terra esfriar.
Numa voz que me chama nos ventos,
que abala os céus, morre, renasce,
paradoxo maldito e divino, na palavra que é gênese, semente,
mesmo em um mundo apocalíptico e penitente,
sem inocentes para salvar.
E na vida confiscada nos versos,
o amor irremediável que nunca é migalha
ou afeto emprestado,
mas um viver sagrado, maior,
que, mesmo em cacos, se recusa a ser pó.