Poemas : 

Ana

 
 
[aos moldes da poesia contemporânea]

Eu necessito inventá-la
    toda manhã
porque só sua ausência
foi presente.

Tecê-la pictórica
    — inventá-la —
como se o sol
nascesse desses olhos
entre as linhas das montanhas
da cidade,
compondo aos meus olhos
um mapa cego de luz.

    — reinventá-la —

para poder dizer-lhe
neste instante
  do crime:
      tua beleza
      assalta-me a razão.

E a realidade já não é
senão uma mímesis
de algum lirismo
    xoxo...
    capenga...
    o que seja.

Mas é preciso pintá-la
com certo eufemismo:
a imponência dos anjos
não se emolda às retinas.

É necessário reinventá-la
à luz criadora presente
    acima da ilusão das cores —
e não com as cores
(as cores, reinventá-las):
pois cores descascam
as horas,
inventam outros tempos,
    amarelados de fusos.

Seria exigido mais
que as mãos à esculpir
     o silêncio
do mármore.

Seria necessário criá-la.

 
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luscaluiz
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Enviado por Tópico
Paulo-Galvão
Publicado: 19/04/2025 07:16  Atualizado: 19/04/2025 07:16
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Mensagens: 1624
 Re: Ana
Ola Lucas,

Boa construção, Já no final do poema
"     o silêncio
do mármore.
" sugere uma imagem de beleza imaculada "mármore branco" ou a frieza da pedra, Esta ambivalência permite leituras diametralmente opostas.
Boa Páscoa!
Abraço
Paulo