Recordar é folhear um livro antigo,
Cuja capa foi polida pela pressa do presente.
O passado — tão inteiro quando vivido —
Hoje é só um eco,
Trincado pelas mãos da mudança.
Somos ruínas de nós mesmos,
Reconstruídas com materiais modernos,
Mas os alicerces…
Esses rangem com saudade.
A evolução é uma fera gentil e cruel:
Nos empurra para frente,
Mas arrasta pelas unhas aquilo que éramos.
E quando olhamos para trás,
Já não sabemos
Se o que vemos é memória ou invenção.
Ser é crescer,
Mas crescer é esquecer.
E esquecer, talvez,
Seja o preço da beleza do agora.
Poema: Odair José, Poeta Cacerense