O poeta é um escultor de silêncios.
Cada palavra é um golpe de cinzel
Na pedra bruta do pensamento.
Ele não escreve — revela.
Retira o excesso, a sobra, o ruído,
Até que reste apenas o essencial:
Um verso nu, em equilíbrio com o vazio ao redor.
O escultor vê a forma escondida na rocha.
O poeta, o sentido oculto no caos da linguagem.
Ambos trabalham com as mãos sujas de matéria
Um de mármore, outro de metáforas.
E o que criam é algo que já existia,
Esperando ser libertado.
Escrever poesia é talhar o vento.
É dar peso ao que é leve,
É moldar o instante antes que ele se desfaça.
É lutar contra o excesso até que reste só o poema,
Firme como estátua,
Vivo como sopro.
Poema: Odair José, Poeta Cacerense