I
Não sei se foi engano ou foi malícia vã
O certo é que causou profunda dor em mim.
Foi fel, foi sal, ou sombra de um mau fim?
Só sei que em mim doeu feito mortal manhã.
II
Não sei a exata forma desse dano
Mas sei que fere o peito do cantor.
Calar o canto é quase um ato em vão:
É roubo ao mar, do peito do oceano.
III
A Tristeza, essa cigana andeja e fria,
Vagueia solta e toma o corpo inteiro.
Do peito arranca a prosa e a poesia,
Deixa o poeta seco e forasteiro.
IV
E o destino, com sua teia tamanha,
Tecelã cruel de sonhos e ilusão,
Arranha a pele e rasga o coração,
Sol wue se esconde
atrás da montanha.
V
E meus olhos, tão pequenos, cintilantes,
Choram como os de um menino abandonado.
E o sorriso, outrora tão encantado,
Partiu, mesmo após ler meus Cervantes.
VI
Os mares, que ninguém jamais sondara,
São feitos das lágrimas que em mim se fazem.
Onde estão teus olhos, que não mais me trazem
A luz que em noite escura me guiara?
VII
E assim me vou, na sombra do porvir,
Sem saber do paradeiro do meu bem.
Minha flor, minha palmeira de Belém,
Minha estrela, minha rosa do açaí...
Gyl Ferrys