Poemas : 

a morte do coveiro

 
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"A Morte do Coveiro" (1895-1900), de Carlos Schwabe

à primeira madrugada
vai-se o corpo fica a alma
esse sopro que é um nada
engana-se a dor com a calma
e o ocaso surpreende
quem o conhece e quem sente
que finda mas que porfia
como seta que defronte
do alvo foge e se desvia
na reta curva de um rio
porque a chama um desafio
que tem nome de horizonte

por que razão não podemos
reconhecer pelo menos
o rosto antigo de amantes
estranhos no seu segredo
se antes em cantos serenos
se antecipava o degredo
de duas castas bacantes
na tua tez na minha mão
com aquela carnação
agora terna e vazia
da eterna visão do fim
dos outros ao fim do dia

sob a cortina dos ramos
na neve entre sepulturas
descobre-se um novo plano
que revela num sorriso
um clarão que é timoneiro
entre o fosso e as alturas
dizendo a morte ao coveiro
espero que tu me abraces
num juízo em desatino
que inferno e paraíso
são afinal duas faces
falsas do mesmo destino

 
Autor
Benjamin Pó
 
Texto
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Enviado por Tópico
Rogério Beça
Publicado: 15/04/2025 10:49  Atualizado: 15/04/2025 10:49
Usuário desde: 06/11/2007
Localidade:
Mensagens: 2239
 Re: a morte do coveiro
Com a morte do coveiro, quem fará as covas?

A mancha gráfica (muito certinha) fez-me lembrar um obituário, num jornal.

Entre muitos, gosto deste excerto:

que inferno e paraíso
são afinal duas faces
falsas do mesmo destino


Tem o tom das dúvidas filosóficas. Mistura a fantasia e a razão duma forma muito equilibrada.

Obrigado pela leitura