Na calçada cinza que engole os passos,
Corpos cruzam sem se ver,
Olhos presos em telas,
Corações que já esqueceram o porquê.
O buzinar constante soa como sinfonia,
Acorde de um dia igual ao da lembrança.
No semáforo, o tempo se alterna
Entre a pressa e a esperança.
Entre prédios que tocam o céu,
Um grafite grita cor na parede rachada,
Voz de um artista anônimo
Que ainda sonha acordado na madrugada.
A cidade fere e acalenta,
Cobra caro por cada suspiro de emoção.
Mas é nela que se planta
O desejo de voar, mesmo sem razão.
Poema: Odair José, Poeta Cacerense