Poemas : 

⁠O Abismo e o Eco

 
Tags:  mentira    política    decepção    impotência    ruína  
 
Eles vêm, de olhar vazio,
sem ver, sem saber, sem perguntar.
Marcham—não, rastejam—
com a certeza tola dos que nunca duvidam,
com o fervor triste dos que nunca pensam.

Erguem aos céus um nome, um vulto,
uma sombra que os consome,
um charlatão de feira, um embusteiro de trapos,
que lhes promete um mundo feito de espelhos
onde só veem o que querem ver.

E riem!
Riem do meu desespero,
da minha fúria que a ninguém toca,
do meu nojo que os diverte.
Saboreiam o ódio que os denuncia,
porque sabem que nada os toca,
que nada os convence,
que nada os redime.

E eu, que vejo?
Vejo ruínas erguidas como templos,
mentiras coroadas como verdades,
a história dobrando-se sobre si mesma
como um espectro de vergonha.

Dizem-me: "A história julgará."
Mas que história?
Se forem eles a escrevê-la?
Se o mundo for seu?
Se a verdade for extinta
como um lume apagado no vento?

E então?
E então nada.

Talvez reste apenas o eco,
o resquício de um tempo que poderia ter sido.
Talvez reste apenas este grito—
este grito inútil,
este grito impotente,
este grito que ninguém quer ouvir.


Nelson Rodrigues da Costa

 
Autor
Paxdiem
Autor
 
Texto
Data
Leituras
42
Favoritos
0
Licença
Esta obra está protegida pela licença Creative Commons
6 pontos
2
2
0
Os comentários são de propriedade de seus respectivos autores. Não somos responsáveis pelo seu conteúdo.

Enviado por Tópico
beijadordeflores
Publicado: 26/03/2025 12:00  Atualizado: 26/03/2025 12:00
Da casa!
Usuário desde: 26/10/2024
Localidade:
Mensagens: 375
 Re: ⁠O Abismo e o Eco
Uau, bela estreia.
Gostei imenso
Bem vindo, ou bem vinda!!!

Enviado por Tópico
AlexandreCosta
Publicado: 26/03/2025 15:07  Atualizado: 26/03/2025 15:07
Colaborador
Usuário desde: 06/05/2024
Localidade: Braga
Mensagens: 654
 Re: ⁠O Abismo e o Eco
Acreditemos sempre só na verdade!