Sofre o velho e gasto poeta,
Com sua pena fraca e fria,
Seu olhar perdeu o compasso
Que um dia no coração lhe ardia.
As rimas fogem, desconversam,
Os versos tropeçam no chão,
As musas que antes eram seus sonhos
Hoje não lhe dão mais inspiração.
Suas mãos, outrora firmes,
Agora trêmulas buscam o papel,
Mas só rabiscam abismos
Num céu sem cor, sem pincel.
A tinta seca, a alma pesa,
O peito cansa de tanto gritar,
E a lira, muda e indefesa,
Recusa-se a alegremente cantar.
Sofre o velho e gasto poeta,
Mas ainda escreve, ainda insiste.
Pois a dor que hoje o aperta
É a prova de que ele existe.
Poema: Odair José, Poeta Cacerense