não havia novidade na surdez da casa vazia
embora pairassem calados os passos gastos de fantasmas domésticos
sentava-me a ler uma revista e não era só eu
alguém folheava na minha vez as páginas amarelecidas que tentava decifrar
vozes antigas de músicas entoadas por violinos desafinados
família, legado, espectros
cromos gastos na caderneta da casa
incompleta de mim
aguardando como se me atrasasse para jantar
de prato voltado para baixo sobre a refeição morna
aguardando na certeza de me sentar à mesa
embora gritasse de terror para que não
não me sentassem à mesa
me largassem
me deixassem ir embora que viera só de visita