Precoce, julguei-me poeta,
mas nada entendia o ofício:
nenhum repertório ou métrica
— ritmo? Nem rastro no início.
Sem forma, sem qualquer fundo,
bendizendo o que é simplório:
árvore estéril de tudo,
morta raiz em território.
Quis muito a tantos louvar,
pretensioso, sem bem saber;
quis noutra época cantar,
mas era um grito a se perder.
E eram tantos ruídos
— roucos, doídos, falazes —
que ao fim feriam ouvidos,
cansando períodos e frases.
Mil sermões de um moço chato,
não vivido, embebecido,
num tom confuso e insensato,
— chamava o simples vencido.
Mas eis que o tempo sussurra,
no sopro veloz do caminho:
escuta o vento que dança,
sente o calor do teu ninho.
Dada atenção ao real,
aprendida toda a canção:
tema nenhum será banal
quando pulsar no coração.