Poemas : 

elegia à guerra

 
o corpo em abandono nos braços da mãe

à guerra lutar pela pátria

o corpo diluído nos slogans dos figurantes

contra os canhões

os corpos dos mortos de peito ao fogo inimigo

a infantaria a fluir sobre o chão anónimo

o sangue da mãe dado a beber à terra sôfrega

e uma flor irrompendo entre os mortos

dançando com o vento
a poeira vitoriosa dos generais

 
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gillesdeferre
 
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Enviado por Tópico
Rogério Beça
Publicado: 09/03/2025 23:05  Atualizado: 09/03/2025 23:08
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 Re: elegia à guerra/ cheiramázedo
10. Sem juiz


Não sei como fechar a parte sete,
que poema me chama a clausura,
que pó de terra veda a sepultura
que em cada sua vida se intromete.

Tentei fel e lodo, tudo que infecte,
e pele cheia de pus, amargura,
um nada de luto e dor da mais pura,
catanas cirúrgicas como estilete.

Não sei como acabar a sétima parte,
em que poço mergulhar, o que fazer.
Pareço um louco que o mesmo sempre diz

sem sentido, sem vertigem, nem arte.
Enquanto outros se entretêm a morrer.
Sem juízo, sem culpa, sem juiz.

De cheiramázedo in Dez Sonetos da Guerra na Crimeia por partes