O amor cisma no rosto
Que amanhã ainda esqueço,
Como sombra de um rio
Que o sol não quer mais ver.
Um traço bem leve,
Um sorriso que o tempo esqueceu,
Mas que no instante eterno
Parece florescer.
É no toque fugaz
Que o desejo se disfarça,
Na curva suave do olhar
Que o amanhã se desfaz.
A memória é vaga,
Mas o coração insiste,
Naquilo que não é,
Mas que ainda, no peito, se faz.
O rosto que se perde
Na brisa da despedida,
É um eco distante
Que grita em silêncio profundo.
Um amor que cisma,
Que insiste e se contorce,
Mas que se dissolve no tempo,
Sem endereço no mundo.
E ainda que o amanhã
Apague essa imagem,
Fica o vestígio no peito,
Um resquício de ilusão.
O amor, sempre cismático,
Não tem mais miragem,
E o rosto, por fim,
Desaparece na solidão.
Poema: Odair José, Poeta Cacerense