Poemas : 

Toda Quinta-Feira, o Louco

 
Garrafa d'água na mão,
o vidro pesa menos que o tempo.
Deslizo entre os que sussurram ao nada,
os que lançam pedras às próprias sombras,
como quem joga migalhas ao destino.

Aquele que recita em calçadas vazias
carrega um sol gasto no bolso
e um poema no frio.
As mãos falam antes da boca,
os olhos viajam antes dos passos.
O louco—não, o poeta
lança palavras em poças d’água,
espera que virem estrelas antes de secarem.

Amo olhar,
olhar dentro do olhar que não ama,
nada amando tudo,
tudo despedaçado na borda do delírio.

Há beleza nos que não pertencem.
Na linha trêmula do queixo, um verso incompleto.
No descompasso do riso, um segredo inalcançável.
E eu, sempre ali,
toda quinta-feira,
sentada no vórtice entre o real e o impossível,
lucidez e vento,
deixando que me veja sem saber que é visto.

E se um dia ele parasse?
Se pousasse os olhos no vazio e nada dissesse?
Talvez o mundo inteiro desmoronasse
num silêncio maior que qualquer poema.


Bem-vindos ao meu refúgio, onde desvendo os mistérios da mente humana através da neurociência e da arte da palavra. Sou uma simples pessoa que, nas horas vagas, se torna escritora, explorando o mundo através da observação. Amante das artes e da diversi...

 
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paollalopez
 
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Enviado por Tópico
debypinto
Publicado: 06/03/2025 14:45  Atualizado: 06/03/2025 14:45
Participativo
Usuário desde: 04/02/2025
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Mensagens: 30
 Re: Toda Quinta-Feira, o Louco
Um poema que é, ao mesmo tempo, um olhar e um espelho. A forma como as palavras deslizam entre a contemplação e o efêmero cria um jogo fascinante entre presença e ausência, como se a poesia fosse um risco no tempo, sempre prestes a se dissolver. A metáfora das palavras lançadas em poças d’água é de uma beleza sutil e precisa como o próprio fazer poético, tão frágil e, ao mesmo tempo, tão necessário.

E se um dia a poesia cessar? O que será do mundo sem esse fio invisível que costura os silêncios e os sentidos? Se o poeta guardar sua voz, se a palavra secar antes de tocar alguém, o que restará? O mundo pode continuar girando sem poesia, mas será apenas mecânico, sem respiro, sem frestas por onde a alma escape. Um poema que deixa uma inquietação incômoda e necessária porque, no fundo, todos sabemos que sem poesia, ainda que continuemos existindo, deixamos de viver de verdade

Beijinhos!

Enviado por Tópico
Nanda
Publicado: 06/03/2025 15:36  Atualizado: 06/03/2025 15:36
Membro de honra
Usuário desde: 14/08/2007
Localidade: Setúbal
Mensagens: 11168
 Re: Toda Quinta-Feira, o Louco
Paolla,

Quanto mistério há na loucura e na alienação!
Belo
Beijinho
Nanda

Enviado por Tópico
MÁRIO52
Publicado: 06/03/2025 16:47  Atualizado: 06/03/2025 16:47
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 Re: Toda Quinta-Feira, o Louco
Poema intensamente introspetivo. Onde o eu poético divaga, por entre a complexidade das emoções.

Gostei muito, amiga Poetisa!

Beijinhos.

Mário Margaride