Linda a pastora,
sou teu bode, sou cão,
sou, de fato, cabras
e serei, agora,
com cornos, cabrão
na tua mão, até que me abras.
És, de algo, senhora
Linda, de cajado, varão,
assobio
e montes afora,
serei teu bode de cobrição;
dona do meu cio.
O cão, em mim, te adora,
fiel até mais não;
como uma alcateia,
engulo lobos, sou matilha que devora
um milhão.
Como fiel, em adoração, odeia.
És minha; aqui mora
a pastora mais pura,
meu pasto.
Protetora
que a minha carne procura
e que eu gasto.
Sou fiel ao ardor,
amo esta espécie de verão
que de longe me vem morrer às mãos
e juro que ao fazer da palavra
morada do silêncio
não há outra razão.
Eugénio de Andrade
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