O corpo lembra o que a mente desaprende.
O riso ainda ecoa entre os cacos da madrugada,
sombra da febre que fomos,
desatino de quem nunca soube pousar.
Teve noite em que o mundo era um intervalo de pele,
idioma que só as mãos decifravam,
geografia de silêncios e fugas sem destino.
Eu soube te ler nos rastros,
na curva do suspiro antes do erro,
na demora do toque antes do abismo.
Depois?
Depois a queda, a fome sem nome,
mãos que apertam forte demais,
o caos bebendo do próprio veneno.
Afoguei-me no excesso,
tropecei na falta,
me arrastei pela ausência
como quem desaprende a andar.
E se eu dissesse que o delírio ainda dorme na minha boca?
Que o passado tem mãos e me acorda às vezes,
escorrendo sob a pele como um segredo que se recusa a morrer?
O amor nunca se exila de tudo.
Fica onde o corpo ainda queima,
à espreita na dobra de um olhar distraído,
no instante antes da repetição inevitável.
Fui teu.
Sou ainda.
Sou um viajante do olhar, com histórias que se revelam entre lentes e versos. Imigrante em Portugal, trago comigo a saudade do que deixei e o encanto do que encontrei. Amo a poesia que pulsa nas entrelinhas, a música que ecoa nas sombras e a fotografia...