Sou o que sou,
Porque mais ninguém sabe
O que é viver apenas do silêncio.
No vazio das palavras não ditas,
Nas pausas que gritam verdades,
No eco dos pensamentos soltos
— Aí eu existo.
Sou feito de murmúrios calados,
De gestos que falam por mim.
O vento me entende,
A lua me observa,
As sombras me acolhem
Quando a voz não cabe
No peito que pulsa sozinho.
Ninguém sente o peso do nada
Como quem faz do silêncio abrigo.
Ninguém ouve o som do invisível
Como quem aprendeu a escutar
A ausência do mundo.
Sou o que sou,
Feito de brisa e neblina,
De palavras que nunca nasceram.
E talvez, no fim,
O silêncio seja a única voz
Que sempre me pertenceu.
Poema: Odair José, Poeta Cacerense