Poemas : 

Do Amor e outros Demônios

 
Lá fora, o mundo se contorce na sua dança febril, mas aqui, no santuário do nosso segredo, o espaço se faz denso, carregado de silêncios cúmplices. Fechamos as portas para a turba profana, mas deixamos o sol, esse astro melancólico, que tinge de ouro o nosso isolamento.

Rebeca Mauro Ramos Rocha

Eu grito-te: FICA! Queiras sentir o peso das minhas palavras, embebidas de vinho e dor, destiladas do âmago mais sombrio. Conta-me a tua verdade, mesmo que seja amarga, como o absinto que nos une e nos separa. Brinquemos, então, de sermos um para o outro, entrelaçados nas sombras das nossas virtudes e vícios.

Canta, comigo, as nossas virtudes frágeis, as nossas fraquezas secretas, como se fossem uma ladainha blasfema, uma ode à decadência. Eu quero-te, mas quero-te inteiro, na tua miséria e esplendor, no grito abafado e no sussurro rouco. Vem em verdade. Vem, e fica!

Deixa-me beijar as tuas feridas, sorver o teu sangue e a tua angústia. Não te protejas, lança fora essa armadura de ilusões, e aceita que a dor é a nossa única certeza. Mas, talvez, aqui, neste instante roubado, possamos nos iludir de que ela não nos pertence.

Deita o fardo dos teus dias no meu colo, evoca a tua infância perdida, esquece a máscara que vestiste para o mundo. Lembra-te de quem foste, antes que o tempo deformasse-te, antes que a vida corrompesse-te.

Ah! se pudesses ver, no vermelho do meu sangue, o teu nome gravado como um juramento. Eu na amargura doce dos teus lábios, reconheci-te, era você, mesmo que ainda perdido na tua própria escuridão, sem saber de ti, sem saber de nós.

Sem eu saber, era você.

 
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rebecarocha
 
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