Já mondei campos de trigo
E separei-os do joio
Fui deixando para trás
Folhas secas e restolhos
Nos meus anos de menina
Corria por esses campos
Loiros como os meus cabelos
Que o tempo foi escurecendo
Não fora eu colori--los
Já estariam cobertos de neve
Hoje vivo de lembranças
E recordo com saudade
Quando ainda era criança
E sentia a liberdade
De ter nascido no campo
De não viver na cidade
Para me lembrar desses tempos
Fiz um molhinho de espiga
Papoilas e malmequeres
Uns pezinhos de alecrim
E rama de oliveira
Quinta feira de Ascenção
Pendurei-o ao ferrolho
Fica juntinho ao fogão
Só para me assegurar
Que durante todo o ano
Não me vai faltar o pão
E o que é mais curioso
É que nesse mesmo dia
Até me nasceu um rebento
A espiga é fertilidade
Simboliza o alimento
O pão nosso de cada dia
O malmequer prata e ouro
A flor da prosperidade
O alecrim a saúde
Seja qual for a idade
Na papoila que é fogosa
Arde a chama do amor
Qualquer vento a desfolha
Mas não perde o seu valor
A videira é pura vida
Trás o bago da alegria
Consolo de muita dor
E o que mais falta nos faz
Seja qual for a maneira
É ter um pouco de paz
Muito amor no coração
E um ramo de oliveira.
Fernanda Esteves
Setúbal