Venho ver-te ... assim, calada,
fechada num fundo que nao conheço.
Por vezes, ao tocar-te,
sinto que me reconheces,
que me abres a Alma numa maré
de profunda emoção.
E sinto, por instantes, a saudade de nós
brilhar nos teu olhos cor das ventanias.
Mas é breve porque breve regressas
ao teu mundo.
Um mundo onde não há lugar para mim.
Onde não nos podemos abraçar.
Sei que não consegues.
Que queres mas não podes.
Sei que tentas com toda a força do teu ser,
do teu coração vires até mim.
Eu sei Avó... eu sei ... mas o amor não acaba
e dizer que te amo é o que temos.
É o que podemos ter. Aqui ... agora.
A vida revelou-se para nós
como um vidro partido.
Cruel, injusta, indiferente.
Tão longe da minha infância,
quando era menino de colo ... no teu colo.
Em ti não há voz mas há gestos, olhares, toques.
E o amor aumenta, prologa, multiplica-se ...
Minha Avó ... minha Avó ...
Para a Avó Clarisse
do Neto por si tão amado.
Ricardo Maria Louro