Prosas Poéticas : 

Há palavras que não se encerram

 
Há palavras que não se encerram – serpentinas de significados, labirintos sem fim. O desencontro é uma delas, uma longa linha escrita nas entrelinhas do tempo. Uma trama de silêncios, olhares que se desenlaçam e seguem em direções opostas, ainda que carreguem no peito a memória de um toque incompleto.

Desencontro é o instante suspenso entre duas bocas que quase se alcançam. É o perfume deixado no ar depois de um adeus hesitante, o calor residual que fica nas mãos quando a outra já se foi. Não há palavra que o contemple por inteiro, pois ele não cabe no agora – é um eco, uma sombra, um vestígio que o tempo arrasta como quem saboreia a dor com lentidão.

O desejo também mora no desencontro. Ele arde naquilo que não foi consumado. É a pele que não sentiu o fogo e, por isso mesmo, permanece em brasa. Como o mar que deseja o horizonte, mas nunca o toca, amando-o com uma devoção distante.

Ah, e há uma perversidade poética nisso tudo: desencontrar-se é também manter a chama do encontro viva. É amar na ausência, no intervalo onde as almas se encontram mais nítidas porque nada as distrai. Uma palavra interminável, sim, mas que desliza suave como um sussurro entre os lábios de quem nunca se esqueceu.


Sou um viajante do olhar, com histórias que se revelam entre lentes e versos. Imigrante em Portugal, trago comigo a saudade do que deixei e o encanto do que encontrei. Amo a poesia que pulsa nas entrelinhas, a música que ecoa nas sombras e a fotografia...

 
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salucci_th
 
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Enviado por Tópico
debypinto
Publicado: 15/02/2025 14:38  Atualizado: 15/02/2025 14:38
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 Re: Há palavras que não se encerram
Que texto sublime! O desencontro aqui se transforma em poesia viva, um sentir que arde na ausência e se eterniza na memória. A delicadeza das imagens e o lirismo envolvente fazem cada palavra ecoar. Maravilhoso!


Enviado por Tópico
paollalopez
Publicado: 15/02/2025 16:30  Atualizado: 15/02/2025 16:30
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 Re: Há palavras que não se encerram
Há poemas que não se leem apenas sentem-se. Este é um deles. A melodia das palavras, o eco do não-dito, a dança entre o que foi e o que poderia ter sido. Tudo pulsa com uma beleza melancólica e arrebatadora. O desencontro aqui não é apenas ausência, é chama, é presença no intervalo das horas. Parabéns por essa escrita tão intensa e envolvente.