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Força líquida

 
Sempre tive dificuldade em chorar, não me lembro de pequena de ter exemplos do choro, quase sempre os meus tinham as mãos nos rostos ou nunca via nada. Não recordo-me de terem me mandado engolir, mas capaz de antes de ser mandada, o fiz, afinal sempre fui obediente.
A sensibilidade usava sempre outras formas de expressão, ora mais macia se transmutava em palavras, em tantos outros momentos era a ira do sentimento reprimido, um estouro repentino que externamente não havia motivo para ser, mas se apresentava.
Pensei tanto que chorar requereria eventos especiais , tamanha a minha dificuldade de trazer à fora. Mas não é que veio?
E quando veio, desgovernado e repleto de sentimentos incompreensíveis não houve aviso ou diques que dessem conta, o salgado saltou dos olhos, avermelhou-os, rubrou o rosto e penalizou a cabeça.
Aquele salpicado tornou-se tão mais frequente que tomou meus dedos e pensamos, e busco desde então formas de não contê-los mas compreendê-los.
O choro é o encontro das águas internas, uma inundação purificante, poção capaz de expelir os mais diversos sentimentos, colocá-los no chão , nos móveis e no rosto, é a libertação das comportas de contenção.
À quem já saída disso ha tanto, outros fazem-no em inconsciente mas sem contra indicação.
Chorar é agora pra mim um código avesso ao que a muito tempo sustentei.
Choro é a força líquida.

 
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Madam'pen
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