A culpa é do vazio.
Um sino cavo na garganta do tempo.
Nos porões e nas escotilhas,
o silêncio devora tudo.
Se Deus é um álibi,
dissolve-se agora no ar.
Atreve-te a tocar os nervos do proibido.
Cose o sentir como quem molda tempestades.
O que os teus dedos tocam,
também te refaz.
Os porões abrem-se lentamente.
O vazio escapa,
um hálito morno sobre a nuca.
A escotilha revela mares internos,
onde a ausência dança incendiada.
O que ruía, germina.
O tempo curva-se sobre si,
um animal sem forma,
sem rosto,
sem pressa de ser compreendido.
A alma multiplica-se,
não como ruína,
mas como semente,
broto no ventre do silêncio.
Os poemas despertam.
Cada verso desprende-se da página
Como um pássaro cego,
tentando tocar o sol na garganta.
As palavras ganham pele.
A pele, cicatrizes douradas.
O coração, enterrado nos ossos da palavra,
lateja irregular, feroz.
E tu, leitor, sentes isso?
A matéria dissolve-se.
Um líquido escorre entre os dedos.
O vazio torna-se cântico.
As páginas, portais.
O espaço abre-se.
O som dobra-se.
O tempo, suspenso,
prestes a tombar.
E a tua voz, antes tão humana,
estica-se até ao infinito,
num tom que não cabe no tempo.
Ao deitar-te sobre o poema,
sentes o peso das estrelas.
O coração, translúcido,
revela-se:
um altar onde o tempo se ajoelha e
— por um instante —
tudo silencia.
Bem-vindos ao meu refúgio, onde desvendo os mistérios da mente humana através da neurociência e da arte da palavra. Sou uma simples pessoa que, nas horas vagas, se torna escritora, explorando o mundo através da observação. Amante das artes e da diversi...