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Viajantes e peregrinos

 
Uma lívida paranoia flutua no ar esses dias
Figuras desconhecidas perambulam pela cidade
Um gosto amargo desce pela garganta
E não temos noção alguma
Do que pode acontecer
Todas as coisas parecem estar fora de lugar.

Quem são os detetives e quem são os ratos?
Os que vivem escondidos nas sombras
Perscrutando pelos becos cheios de lixo
Parecem buscar alguma coisa
Algo que se perdeu no tempo
E ninguém consegue enxergar a verdade.

Nós podemos ser um caminho em movimento
Uma estrada onde caminha os peregrinos
Que destoam radicalmente de sua fé
Pois a fé está dentro da extinção das crenças
Porque nesse ambiente lúgubre
O Deus morre se não souber dançar.

Será que os animais são sozinhos
Ou apenas os ouvintes de algum tolo que grita?
Perguntas quase sempre não trazem respostas
E caminhamos quase sempre na escuridão
Como viajantes perdidos
Em territórios inóspitos e cheio de terrores.

As palavras morrem por elas mesmas
Sempre que alguém fala uma besteira
E existe uma violência de se estar perdido
Correndo o risco iminente do exílio
Apenas as longas conversas em monólogos
Não serão suficientes para mudar esse cenário.

Poema: Odair José, Poeta Cacerense

 
Autor
Odairjsilva
 
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Enviado por Tópico
salucci_th
Publicado: 26/01/2025 13:44  Atualizado: 26/01/2025 13:44
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 Re: Viajantes e peregrinos
Este texto ecoa a solidão e o desalento de quem atravessa mundos, físicos e interiores. Como viajante e imigrante, senti-me espelhado nas figuras errantes que buscam algo perdido no tempo. Há uma melancolia brutal na ideia de que Deus, para sobreviver, precisa dançar — um reflexo de nossa própria necessidade de adaptação num território que raramente nos acolhe por completo. É um mapa emocional da desorientação, onde a esperança é apenas um movimento contínuo, sempre à beira do desconhecido.