“É preciso haver limites pra criança”.
– Sempre ouvi isso com a esperança
De que também haja limites para outras criaturas,
Porque sem eles alvorece a loucura
E o tempo para em uma noite escura
E deixa as almas à mercê da ditadura
Que dita uma construção sem fundação
E um caminho livre que leva à prisão.
A falta de limites limita a visão
E ao invés de lavar, leva almas para contramão.
Contra os sentidos ou andando para trás,
Os cavaleiros tiram de quem não tem para dar a quem tem mais.
Que vergonha que me dá
Em ver a cerca do Ademar
Caminhar daqui pra lá
Engolindo as terras do Gilmar.
Sem limites, as cercas não param de andar
E a virtude não para de se afundar.
As cercas engolem terras, almas, vidas,
Enchem de veneno as comidas,
Deixam corpos e almas adoecidos
E o barco que nos trouxe até aqui é esquecido.
As cercas transformam sujeito em objeto
E ditam os traços do projeto.
As cercas estão enfraquecendo a iluminação.
As cercas estão festejando a escuridão.
As cercas estão sem limite
E em um rumo de verdade arremessam dinamites.