Poemas : 

O retrato do retratado

 


inquilino um rosto um busto de lábios retilíneos olhos guardiões de cor claro pela sépia argentada do tempo o pó exilado na moldura recorta em silêncio as memórias reflexo d`outras ossadas longe do alcance o coração os tons as vozes os pensamentos desenham epitáfios com pecados paixões virtudes ficam a nu na história dos erros saem da fundura do chapéu esmaecido pelo sol entre palavras segredadas no poente que caíram sobre a mesa que mendiga o centro do momento no retrato o exílio das veias em debrum entram no sereno da noite vagueiam como tigre com o coração na garganta em golpes fincados nas rugas nos suspiros sopro interior no exterior o corpo gasto pelas batidas das pálpebras nos abismos do vento nos ocos olhares frémito a vida tocada na dor na carne na cadeira onde tece o lugar à roda do pensamento distante do rosto que outrora fora o retrato dos olhos sonhando brilhos espumas abismos olvidos enlouquecidos ignoram cárceres amarras cicatrizes pés que caminharam sós nas feridas que os caminhos levaram ao finito de cada um abandono acolhido nas mãos trémulas como sismos ao ritmo do incansável relógio que descreve solidão em incesto com noite erguida no retratado do retrato a máscara bolorenta da inocência das estrelas de deus do pião um emaranhado como a velha silva a que ninguém olhará nem ao ramo decepado a que o pássaro não se aninha a melancolia da lua nova da idade da seda parte-se um dia sem lembrança como soledade de ilhéu no desfazer de velas brancas no remoinho do vento o espelho racha fecha-se a estrela só o corpo lhe pertence e a rosa na hora da morte







Zita Viegas















 
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atizviegas68
 
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