Poemas : 

histórias da avó

 
considerar o medo sólido e palpável,
uma bola de futebol,
que defendo todas as noites com uma intervenção segura embora pouco vistosa.

o rio corre para o mar para salvação de frei João sem cuidados.

de manhã, café com leite e torradas da avó para ter uma ideia da alegria dos pobres.

o cheiro a café e a inusitada voz da senhora que vende galinhas.

diziam que a filha.

a filha da galinheira não era Guarda-Redes mas não conhecia o medo.

cheirava a café e medronhos.
cheirava a vontade e planícies.
era senhora de um castelo.
quando sorria eu acreditava no pai natal.

princesa de diamante num cesto de galinhas para degolar.

por vezes cheirava a sangue
por vezes soavam os sinos na igreja com medo
por vezes era vista nas traseiras de uma casa velha onde mulheres nervosas

o cheiro de café no fundo do corredor ressoando nas paredes húmidas gemidos e toalhas mal lavadas.


 
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gillesdeferre
 
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