Está chovendo lá fora
É gostoso
Bem que eu podia baixar o facho
Relaxar
Quem sabe, dar-me o direito
De preguiçar um pouco
Mas, não!
A mente não para
Os músculos atrofiam
Se ficarem imóveis
A culpa sabe manipular-me
É melhor fazer pela vida
Não tenho um nariz mágico
Nem o meto onde não devo
Entretanto,
O gato dorme no sofá
Como sempre
É um imprestável
Até para matar um inseto
Vai-me chamar
Já não se fazem machos
Como antigamente
Cá para o meu lado
A coisa está escassa
A chuva cai impiedosamente
Meticulosamente
Pelo menos, o frio abrandou
Sou agradecida
Não preciso lavar o carro
Não quero ficar a ver notícias
Fico deprimida
Não é falta de empatia
Só estou farta das desgraças alheias
Também tenho as minhas
Só não encho a paciência a ninguém
De novo, o gato
Olha para mim, desesperado
Pergunta-se porque não fui trabalhar?
Assim, só tem meio sofá
Já percebi que a casa é dele
É melhor arrumar o que fazer
E dar-lhe espaço
Afinal, já divaguei o quanto baste
Não só não rimei
Como acabei nesta inutilidade
Sou só um emplastro para o gato.
Fernanda Esteves
Setúbal