Poemas : 

Ambições desmedidas

 

eu queria ser filme
queria ser letra

pelas lágrimas transparentes e incessantes que ninguém vê

de quem não é amado
mas desprezado

ao som da música
que toca os coelhos em liberdade
a flora que murcha, seca por desinteresse
a casa soturna e vazia, de luzes acesas
lareira apagada no inverno gelado
silêncio da literatura portuguesa
posta de parte, numa qualquer

eu queria ser livro
folha que se lê e relê

queria, queria, mas a casa

de janelas fechadas
cheiro húmido e morno
tapetes e panos e fotos e flores e
sempre mais
sempre não
sempre nunca
sempre ...
qualquer cousa com pó, estática e viva
mas que não respira já

queria, queria muito
mas não dá






I got that feeling
That bad feeling that you don't know
(Massive Attack)

 
Autor
Beatrix
Autor
 
Texto
Data
Leituras
149
Favoritos
0
Licença
Esta obra está protegida pela licença Creative Commons
6 pontos
2
2
0
Os comentários são de propriedade de seus respectivos autores. Não somos responsáveis pelo seu conteúdo.

Enviado por Tópico
beijadordeflores
Publicado: 03/01/2025 08:06  Atualizado: 03/01/2025 08:06
Super Participativo
Usuário desde: 26/10/2024
Localidade:
Mensagens: 161
Online!
 Re: Ambições desmedidas
Tanta ansiedade num poema
Fez me lembrar a inquietação, do José Mário Branco
🙂

Enviado por Tópico
AlexandreCosta
Publicado: 03/01/2025 12:37  Atualizado: 03/01/2025 12:37
Colaborador
Usuário desde: 06/05/2024
Localidade: Braga
Mensagens: 503
 Re: Ambições desmedidas
o teu poema é como olhar profundamente para uma fotografia
e ver, ainda, alguma vida de um lado só (teu)!

bom ano Beatrix :)