Poemas : 

Para Benjamin Pó (57ª Poesia de um Canalha)

 
Crispam-se as mãos com um sabor da terra
Castram-se das letras sabores d'igual besta
Rasga-se do verso um epitáfio de ódio puro
Engasga-se nos passos do homem que erra
O último dia antes do fim qu'ainda lhe resta
Amanhã será sempre tarde demais o futuro

Dir-me-ás o que não te quiser dizer o amor
Que jamais serás o tal que arde sem se ver
O sangue já pardo que das veias nos corre
Seca-nos a memória numa quimera incolor
E dela a vontade de voltar a esquecer e ser
De um metade d'outro passado que morre

Sede louca que este tórrido deserto me faz
O silêncio que me cobre a noite e o seu frio
Este corpo sem sentido é uma lágrima tua
Verbo impropério de sua graça que aqui jaz
Mar a escorrer bravo e alegre da foz do rio
E tu que vives náufrago de uma página nua


A Poesia é o Bálsamo Harmonioso da Alma

 
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Alemtagus
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Enviado por Tópico
Benjamin Pó
Publicado: 26/12/2024 15:02  Atualizado: 26/12/2024 15:02
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 Re: 57ª Poesia de um Canalha p/ Alemtagus
.
"verbo transitivo"

já acreditei na hereditariedade
da luz mas aprendi
com o resguardo das velas

a seguir a procissão
do passado como presente
a seguir o pálio
do cálice suturado de pregos
a seguir a pele
do colo saturado de pregas

afinal todos precisamos de um lar

que a vida é feita
desse deslumbramento da dor
do arrebatamento do nulo
contemplando incêndios
em dia de chuva

e malgrado o naufrágio
das insígnias
a braçadas da redenção
haverá sempre alguém
a perguntar a que horas e como
e porquê

direi que é nas dunas
que se encontra o vento
levitando palmas
por não se decretar a anulação
do ritual das ondas

assim as vírgulas nos versos

retalhos do momento que expira
farda triste com que o canalha
brinca aos deuses
cláusula única do despacho vil
por assinar