Agora que o outro choninhas já escreveu os versinhos da praxe, é melhor ele deixar as pessoas respirarem à vontade.
Que mete nojo...
O Martim deve estar a dar voltar na cova que o acolheu após ter quinado.
Depois de ter posto o corpo às balas na batalha do cerco de Lisboa, ou antes, na porta do castelo de S. Jorge, permitindo a invasão das tropas lusas, levar com a porta nos cornos, nem que seja de modo figurado, é triste. Melhor ainda, deprimente.
O seu nome batizou uma rua e um largo na cidade que ajudou a conquistar.
Há quatro dias, um destacamento volumoso das forças especiais da polícia de segurança pública, entrou na rua assim nomeada, que é mais um beco, e agindo sob a autoridade do ministério de administração interna, fez com que um número indeterminado de pessoas fossem revistadas.
A revista, que não foi musicada, encostou os senhores do paquistão, bangladesh, índia, e muitos subsarianos à parede, dum dos lados da rua.
Mãos ao alto, foi dito sob uma máscara envolvida num capacete cianosado.
As mãos atarefadas em bolsos alheios, talvez seis por gente. Duas mãos, ou mais, por agente.
Às centenas de transeuntes, assim manuseados, foram detetados sete bastões e uma arma branca de cor verde no cabo.
Uma ganza, ou meia linha de coca-cola. Cerca de quatro mil €.
Um meliante detido em prisão preventiva.
As informações obtidas pela bófia anteviam o pior.
Era para serem cerca de duzentas armas de fogo, umas granadas, um décimo de tonelada de heroína. Uma piada de mau gosto e dois terços dos inquiridos iriam dentro meia dúzia e meia de anos.
Um sucesso.
O Primeiro-ministro deste território fazia satisfação desta operação policial.
Publicamente divulgou a importância da visibilidade das forças de segurança para garantir ao cidadão comum a sensação, lá está, de segurança.
O presidente da câmara repetiu vorazmente que precisa de mais agentes. Pediu duzentos e deram-lhe apenas vinte. Os cento e oitenta vêm a caminho da caminha.
Como estarão os loiros de olhos azuis do Martim? Perna aberta ou a assistir ao aparato?
Um dia destes estamos todos a levar com o bastão da senhora cumissária.
Que bem que ela fala para a televisão.
Nunca tinha tido a experiência da sensação dum estado policial. Muito ao de leve que fosse.
Mal comparando, o senhor Luís Montenegro deveria estar solidário com os outros e estar de pernas abertas, com as mãos encostadas à parede no Martim Moniz. Assim podia dar a impressão de igualdade social.
Não vá alguém do Bangladesh querer comprar uma cautela. Pagar um café a uma amiga. Ou roubar uma carteira.
Ou do Paquistão.
Ah espera, isso nunca chegou a acontecer!
Eu, mesmo cá atrás do sol posto, fiquei com um nada mais de medo.
Como dizem na mata onde apanho pinhas maiores do que o subcontinente indiano:
A montanha pariu um rato. Uma rata.
Sou fiel ao ardor,
amo esta espécie de verão
que de longe me vem morrer às mãos
e juro que ao fazer da palavra
morada do silêncio
não há outra razão.
Eugénio de Andrade
Saibam que agradeço todos os comentários.
Por regra, não respondo.