Poemas : 

Para o Cheiramázedo (56ª Poesia de um Canalha)

 
A missa cantava-se ali ao lado sem religião
Ou fome que matasse um pedaço de gente
Orava-se à divina humildade dos seus pais
As mães tinham mais sementes no coração
Que este mundo no seu chão ainda doente
Adubado com o olhar de seus filhos, banais

O teu grito quase tão longe como nós todos
Ignorava-se por entre os dedos como areias
Num deserto sem palavras feito de tristezas
E ecoava na boca da pena dos poetas todos
E na sua alva folha de papel escrita a meias
Entre um e outro noutro mar de incertezas

Os céus topázios puíam a estrela do pastor
E o Sol e a Lua que alguns queriam só sua
Sempre colada no horizonte do eterno mar
E a morte torpe que lhes chegava sem dor
Cravada em carne velha a nossa pele nua
Tudo num breve adeus que não quis matar


A Poesia é o Bálsamo Harmonioso da Alma

 
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Alemtagus
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Enviado por Tópico
Rogério Beça
Publicado: 24/12/2024 08:58  Atualizado: 24/12/2024 12:17
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 Re: Para o Cheiramázedo (56ª Poesia de um Canalha)
6.Sementeiras

Mãos unidas ali no presbitério,
ribombar de bombas no convento;
os gritos são o único lamento,
um halo triste, dorido, sério.

Sementes só as há no cemitério,
famílias inteiras escrevem, ao vento,
aos entes, poemas, sem um intento.
E esse frouxo chamado Rogério.

A natureza vive a vergonha
de ter criado o monstro Homem,
o sol, a lua, as estrelas, o mar.

E toda a reza tão enfadonha
que vira o mal em favor do bem,
também nos salva, virá nos matar.

De cheiramázedo
In Dez Sonetos da Guerra na Crimeia