Disseram-me que eu não sou capaz de pensar.
Eu e todos que estão no meu lugar.
Eu sou o povo e o povo é só para executar
Aquilo que os que pensam “mandar”.
Disseram-me que o povo é como uma boiada
A ser tangida pelos que mandam na estrada.
Uma boiada incapaz de aprender,
Incapaz de escolher,
Incapaz de ter visão,
Incapaz de andar sozinha sem meter os pés pelas mãos.
Disseram-me que eu não sei me virar
Sem ser puxado pelo barco que puxa o mar.
O mar amarrado ao rabo de uma caravela.
Isso revela o enredo,
Que esconde os segredos
De quem em tudo tem o dedo.
Há o dedo deles em tudo.
Eles são mágicos.
Disseram-me que o barco do povo segue em frente
Porque os mágicos levam a gente.
Os mágicos são uma raça superior
Merecedores de todo o esplendor.
Eles com força e sabedoria usam o leme,
Transpiram virtudes e nada temem.
Disseram-me, disseram-me, disseram-me...
Mas tudo que me disseram não passa de lero-lero
Pra esconder a festa dos que tocam o bolero.
Como que os mágicos são virtuosos e nada temem,
Se eles morrem de medo de um Mister M?
O que seria dos mágicos sem as capas e cartolas?
Por que os mágicos apagam as luzes para mostrar suas escolas?
Por que os mágicos mataram Sócrates e Jesus
E põem pedras no caminho que leva à luz?
Por que os mágicos tiram da lição
As matérias que geram iluminação?
Se o povo não somos de nada,
Por que nos escondem a fonte iluminada?