Poemas : 

ribeira em rio

 
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Absorve
sob o solo de areão, rochoso, lama
até ao fundo do poço, a poção, dama.

Pelos poros da pele,
o suor apaga a chama
que ela expele.
Vibra o demais, que se serve à tona, que a terra não leva e, leve, abona.

Recusa
o chão de barro mais um escarro,
uma gota de saliva que seja,
um drama sem ensaio
que o sele.

O selo, preso na caderneta do coleccionador, dispensa o envelope
e a carta, o leitor.

No planalto, a cheia não vale. No vale a ele ligado há um rio que anda e, se acidentado, corre; o acidente, ácido, manda.
O lençol de água sobe, até à nascente. Sem poder mais, rompe numa fonte.

Ela jorre, ribeira que anda e que, se abunda morre.
Em rio.


Sou fiel ao ardor,
amo esta espécie de verão
que de longe me vem morrer às mãos
e juro que ao fazer da palavra
morada do silêncio
não há outra razão.

Eugénio de Andrade

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Por regra, não respondo.

 
Autor
Rogério Beça
 
Texto
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Enviado por Tópico
Alemtagus
Publicado: 15/12/2024 10:50  Atualizado: 15/12/2024 10:50
Membro de honra
Usuário desde: 24/12/2006
Localidade: Montemor-o-Novo
Mensagens: 3450
 Re: ribeira em rio p/ Rogério Beça
Como já nos habituaste a este diálogo com os versos, não é de estranhar que a leitura se entranhe em todos os poros da pele, líquida e fluída como se quer que seja.
Os montes e vales que aqui descreves com a tua precisão natural, sei-o eu pela minha leitura, são corpos que vão abandonando a sua pele através das cada vez menos notórias, mudanças de estação... é a idade que nos vai corroendo os vales e que, chegando a um determinado ponto da vida, nos inunda de dúvidas, desejos, medos e, finalmente, nos deixa conformados com o pouco que ainda nos falta ou com o muito que ainda não temos.

De excelência

Enviado por Tópico
AlexandreCosta
Publicado: 16/12/2024 11:58  Atualizado: 16/12/2024 11:58
Da casa!
Usuário desde: 06/05/2024
Localidade: Braga
Mensagens: 457
 Re: ribeira em rio
Soa-me a alguém que se sentiu usado(a)... mesmo assim, só aflora saudade.

Um abraço e boa semana Rogério