Parece que ao eliminar o peso físico, fazia eu também um detox da alma,
Abri o armazém e ateei fogo nas memórias doloridas que com tanto afinco guardei.
Vi inflamar toda a minha incredulidade e incapacidade de compressão do humano,
Ruiu sobre meus olhos as certezas ditas com orgulho,
Senti o insultuoso se dissipar, bloco por bloco em meu corpo;
Rompi meus vícios, levei minha cabeça à consulta, ela sobreviveu.
Vejo agora com regalo uma forma me olhar, e encarando-me aplaudo a partida da minha antiga concepção. Noto tudo se recompondo de lugar, de forma nativa, como se cada importância soubesse onde deveria estar mas por minhas mãos, retardaram.
Não me reconheço
Mas não há medo nessa sombra que vem, apenas respeito.
Um grito de autoaceitação à minha natureza, afeiçoada ao controle, entregue às condições que pareciam racionais, prisões mentais que criadas para não sentir. Calabouços abarrotados de expressões suprimidas.
Evadi de mim depois de muitos naufrágios e afogamentos mentais, mas não posso dar-me todo o crédito. Foi preciso que um barco, embora em frangalhos aporta-se à minha costa, e sob o seu cintilar de luzes, conseguisse me auto enxergar. Sob a luz do outro me vi.
Libertação do cárcere!