Ontem foi chão vermelho
Poeira dançando em círculo
Um grito abafado nas lonjuras do peito
Rio se buscando nas curvas, sede e suor
De quem teima...
Palavra era mais suposição do que certeza
Vento de história que soprava nos tempos
Fio de lembrança remendando o agora.
Hoje é o passado duro da estrada
Onde o sol crava, sem pedir licença.
A vida mastiga devagar as horas
Feito boi ruminando a grama.
O agora é esse trem que range nas curvas
Levando um vagão de promessas que não se resolvem.
Mas seguem porque o trilho é destino.
Amanhã?
Ah, o amanhã é um bichinho arredio
Não se laça nem se doma à força.
É murmúrio de rio antes da seca,
Segredo guardado na curva do entardecer.
O que há de vir é mais do que se vê:
É mistura do que somos com o que queremos
Do mundo. É Deus cochichando baixo com as estrelas
A gente escuta, mas não entende tudo.