Caríssimos Sucupirenses! Queridos e atentos cidadãos desta terra, honrados veteranos do nosso seleto grupo de observadores e ouvintes de primeira linha! Permitam-me erguer a voz neste centro glorioso, onde a praça é o parlamento e o banco é o trono.
Ah, Sucupira! Terra onde até o vento sabe cochichar, onde até o sabiá conta as novidades! Aqui, meus caros, a quinta-feira não é um dia qualquer: é dia de audiência pública, de inspeção, de apuração. Sentamos em volta desta praça como os nobres senadores, atentos aos movimentos de quem passa e de quem fica. Ora, que venham, pois estamos prontos! Afinal, não existe assunto pequeno para o ouvido bem treinado de um sucupirense.
E cá estamos, numa praça onde até o silêncio é fofoqueiro, e os bons dias vêm temperados com perguntas que mais parecem um interrogatório: “Como está o seu marido, ainda trabalha na capital?” – como se o marido já tivesse dado entrada na caixa. “E o seu filho, é verdade que casou com a fulana da loja de tecidos?” – como se fosse uma união secreta da realeza! Vejam bem, em Sucupira, as perguntas são feitas com o entusiasmo de quem não quer perder uma vírgula.
Mas digo-vos, queridos, a fofoca, aqui em Sucupira, é mais do que um hábito: é uma tradição cultural! Alguém por acaso se lembra do que existe além dos muros da nossa amada cidade? Ora, ninguém tem tempo para o mundo lá fora! Se é que ele existe mesmo. Aqui, a vida de cada um é a nossa própria novela. E que novela! O drama da semana passada, o mistério de ontem, a revelação do dia de hoje!
E quando a boca é bem informada, o ouvido é todo atenção.
Permitam-me, então, que eu mande aqui uma palavra de respeito e gratidão aos que sabem ouvir e sabem falar. A esses senhores e senhoras que compõem o fiel público deste espetáculo sem fim que é a nossa cidade. Pois de que vale uma boca sem um ouvido atento, não é mesmo? E aqui, meu povo, a audiência nunca falta! Sucupira inteira é uma grande sala de estar – e o sofá somos todos nós, alinhados e prontos para acolher a conversa.
Ah, que nunca nos faltem as notícias frescas do padeiro que chegou tarde, da professora que mudou o penteado ou do vereador que foi visto com aquela prima da vizinha do irmão do cunhado… E assim seguimos! Para quem tem ouvidos, eu mando bocas! E que este ato de bem informar seja o elo que nos une, a cola que nos mantém.
Então, Sucupira, pode continuar sentada nos seus bancos e firmando os olhos no que interessa. Pois, enquanto eu tiver voz e vocês tiverem ouvidos, nada nos escapará. E assim seguimos, firmes, na nossa mais nobre tradição: a de contar a vida dos outros, com elegância e precisão!
https://dialogopoeticosilencioso.blogspot.com/
Bem-vindos ao meu refúgio, onde desvendo os mistérios da mente humana através da neurociência e da arte da palavra. Sou uma simples pessoa que, nas horas vagas, se torna escritora, explorando o mundo através da observação. Amante das artes e da diversi...