A humilhação num cone de gelado
Um doce instante de magia negra
Um beijo que finge fugir
Um baloiço que range ao subir
Casas-aquário onde moram redes verdes de seiva
Memórias que escondo num saco de juta,
fechado com um atilho de pão
Um testamento vazio, não branco
Uma canção de verão que ninguém quer cantar
Uma ida à praia de fralda-cueca
O campo e os lírios roxos pra cortar
Não quero ir, hoje não vou,
tenho vergonha,
tenho medo...
nunca me deixes
Ondas brancas que só molham os bravos
A areia que queima os pés nus
O meu pé na tua mão
A tua língua no meu ombro
Sussurros do tato em vão
E dizes que vais embora.
Não porque queiras,
mas por um acaso.
Esperas de horas e rodas a grande velocidade
Nuvens baixas de mosquitos que assolam
as paredes de maldade
O gato que come as minhas plantas
e as minhas palavras
Leva contigo o animal, que lambe como tu,
isola o que queres,
e não como postes te encostes a mim
Já não suporto exemplares assim
Devolve o que foi meu, e não dá
Pureza inexistente de um credo mentira
Ausência que rasga as entranhas
de ponta a ponta
Emergência futura que conta
Um porta-agulhas, cadinho, fio de sutura,
fórceps, sei lá, e panos pró fim limpar
Trazes-me o saco de juta
Porquê?
Achas que acabou a história?
Quem disse que eras minha memória?
I got that feeling
That bad feeling that you don't know (Massive Attack)