Demorei a perceber, ainda que agora me pareça claro: o que distingue o Escritor — esse com E maiúsculo — do escritor amador não está apenas nas palavras bem escolhidas ou na intensidade dos sentimentos que ele busca expressar, mas no pleno domínio dos recursos técnicos. É saber manejar os aspectos fônicos, morfossintáticos e semânticos com precisão, criando uma harmonia sutil e quase imperceptível que conduz, com delicadeza e intenção, o psicológico do leitor para o desfecho desejado.
Escrever, afinal, exige mais do que inspiração; requer uma consciência profunda da linguagem, um compromisso em transformar a sensibilidade bruta em estrutura viva. É nesse processo que o escritor encontra a liberdade verdadeira: ao dominar a técnica, ele amplia as margens da sua criação, podendo explorar tanto as dobras do pensamento quanto as nuances do sentimento, sem sacrificar o encanto espontâneo que brota do ato de compor. Porque, para ele, escrever não é um gesto isolado, mas uma espécie de partilha — um convite ao leitor para uma experiência íntima, onde cada palavra, cada pausa, cada período tem a intenção de criar ressonâncias, de abrir brechas de entendimento e mistério.
Assim, o escritor transcende a mera expressão e alcança algo mais: o raro equilíbrio entre a tradição e a invenção, entre o rigor e a liberdade, onde a técnica não é apenas uma ferramenta, mas a própria chave que lhe permite construir, com precisão e entrega, o encontro entre a palavra e o que há de perene na condição humana.
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