Prosas Poéticas : 

E do lado de cá deste mundo,...

 
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E do lado de cá deste mundo,...
 
Refletia se pouco naquela terra. Os pais solteiros, e as mães angustiadas, insultavam-se sem clamor, aparentemente apenas pelo simples prazer de o fazerem. Havia copos de chá é certo. Infusoes escaldantes, que fumegavam sem parar na cacimba subtil das manhãs de inverno. E a procura de consolo nos livros, posterior aos insultos, às conversas sem sentido e sem ilusões, era sempre uma certeza.
A maior desiludida da vila com esta situação era quem morava ali há menos tempo. Uma mulher de meia idade, de vestir razoável, poucas falas, e tutora de uma criança parecida consigo. Não era seu filho, antes um adolescente que encontrara, desamparado, numa das terras longínquas onde antes tinha morado. Era um jovem que pouco saía para as ruas da vila. Deixava-se ficar em casa, a mirar-se ao espelho, e a trautear músicas sem letra nem autor aparente, que se desconhecia onde as tinha aprendido. Gostava também de escrever, mas não se sabia o teor certo do que rabiscava em folhas esbranquiçadas e velhas que encontrava, pois optava por guardá-las sem qualquer ordem ou fim conhecido.
E do lado de cá deste mundo, nota ainda para os fenómenos meteorológicos estranhos de que padecia esta vila. Chovia quando fazia sol, e apenas uma nuvem sem forma ou cor definida encimava o vale que se achava no topo daquele grupo de casas. E havia sol, por vezes abrasador, dir-se-ia incomodativo, por alturas do Natal.

 
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beijadordeflores
 
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