vou inventando-te nos espaços
atrás das cortinas brancas
célula a célula
nervo a nervo
vermelho a vermelho
cabelo a cabelo
como fazem os pintores sem carne
nada falha quando te invento
e se ventos falassem
calar-se-iam quando te invento
é que não há voz qualquer
que cale o amor puro
nem sequer as águas
que rasgam montanhas
tão pouco sei
por que te invento
talvez acredite no impossível
talvez este sangue de alma
placentário olhar de universos
saiba que
algures
terás nascido para mim
ainda que não te desvendes
ainda que te escondas
atrás das palavras onde te invento
haverá o tempo
(ou já o houve...)
em que num corpo serei eu
e noutro
tu
mas algo no fundo me diz
que já foste inventada
e eu sou invenção
20-10-2024